Empresários de Belém apostam nos cafés especiais durante a COP30


Se há alguns anos o mercado de café especial era visto como nicho, hoje, já se pode considerar um segmento em plena expansão. Na Rodada de Conversa e palestra, promovida pela Associação Comercial do Pará (ACP) através da Câmara Setorial do Café Especial da ACP, entre os assuntos estavam: cenário do mercado nacional dos cafeicultores; e desafios que os profissionais de cafés especiais de Belém enfrentam para desenvolver seu próprio negócio, já que o Pará, não é contemplado como produtor de café, segundo o mapa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apresentado no evento. O encontro aconteceu na ACP, na última semana, e reuniu proprietários de cafeterias, restaurantes, bares, padarias, empórios, baristas (profissional porta voz dos cafés nas cafeterias), agrônomos e produtores de café, além da palestrante, que é analista-técnico do Sebrae Nacional Café.

O tema foi sobre “Preparação COP30: oportunidades para o mercado de cafés especiais em Belém”. Com a chegada da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que vai acontecer em Belém, o evento incentiva fortalecer as conexões com o comércio, ofertar diversidade no cardápio, treinar equipe, oportunizar café nos eventos e valorizar produtos com sustentabilidade.

A comercialização do café especial na capital vem conquistando espaço desde 2008, quando o empresário Bruno Wariss, que também é coordenador da Câmara Setorial de Cafés Especiais da ACP, começou a comprar no sul de Minas Gerais o produto e passou a oferecer nos restaurantes e padarias. Depois de muito treinamento e conhecimento, em 2022, Bruno começou a comprar grãos, cerca de 60kg e montou sua torrefação utilizando café de origem arábica. Hoje, 80% das vendas são nas cafeterias, confeitarias e docerias.


“Depois de muito conhecimento, a gente começou a desenvolver em Belém. A gente treina hoje 2 mil pessoas por ano entre baristas, coffee lovers e donos de cafeterias. Tivemos que começar do zero a cultura do café especial. Existem outras pessoas também que desenvolvem este trabalho, como a Liane Dias, que é curadora de café especial”, ressaltou o empresário.

De acordo com a apresentação da analista-técnico e gestora de projetos de café do Sebrae Nacional, Carmen Souza, o Brasil tem 17 regiões produtivas. Mais de 60 milhões de sacas de café são produzidas anualmente. O objetivo do Sebrae é capacitar todos os elos da cadeia produtiva e propor políticas públicas para fortalecer a cafeicultura e assim, avançar muito mais.
O Sebrae atua na qualificação de toda a cadeia produtiva, com cursos que abrangem desde a plantação até o comércio. Se num primeiro momento o importante era ensinar a melhorar cada uma dessas etapas, como torra do grão, o barista, o provador do café, agora, o foco é a conexão entre esses elos da cadeia.

Para o engenheiro agrônomo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária da Pesca (Sedap), Thiago Leão, é um desafio que precisa ser desenvolvido através de projetos e estudos para reativar a cafeicultura no Pará. “Enquanto secretaria nós queremos apresentar uma proposta de projeto para reativação da cafeicultura no estado. Envolvendo o máximo de parceiros que possam, juntamente com a Sedap, desenvolver a cafeicultura. Desta forma, apresentar como uma alternativa de renda e de recuperação ambiental para os produtores do estado. Solo e clima nós temos adaptados para a cultura. O robusta amazônico, da espécie canéfora, é mais adaptado ao clima da Região Norte. Então, temos condições plena para cultivar. Temos áreas aptas para isso e produtores interessados”, afirmou Thiago.

A criadora de conteúdo cultural, gastronômico e turístico, Danielle Filgueiras, que estava entre os participantes, achou interessante a programação para entender melhor como o café é importante não só para a economia do Brasil, mas também para a economia do Pará.

“É legal porque a gente consegue ter uma visão. Eu por exemplo, que não trabalho com café, mas tenho curiosidade, gosto de café, consegui participar, entender a palestra e consegui trazer informações que no meu dia a dia vão ser bacanas. Ao mesmo tempo como paraense e produtora de conteúdo desta área, é bacana também ver essa preocupação do desenvolvimento no mercado local, que busca a melhoria dos produtos e pega exemplos do mercado nacional pra gente poder se

inspirar e entender este processo no Brasil. Acho que o café está dentro da nossa cultura paraense. Temos formas peculiares de tomar café”, disse Danielle.

Conforme a Associação dos Cafés Especiais do Brasil (BSCA), cafés especiais são grãos isentos de impurezas e defeitos. São considerados cafés acima de 80 pontos, após a análise dos atributos, que seguem o protocolo de prova da associação. Além da qualidade intríseca, os cafés especiais têm rastreabilidade certificada e, os critérios de sustentabilidade ambiental, econômica e social, devem ser respeitados, assim como todas as etapas de produção.

Segundo o coordenador, Bruno Wariss, a diferença no paladar consiste em trabalhar com os grãos de café no máximo da maturação e no máximo da doçura natural, o que se torna estranho à maioria das pessoas, porque o café tradicional não leva grãos maduros. “Talvez seja provado o café sem açúcar, porém, doce naturalmente. Diferente de um doce industrial. Você acaba tendo um resultado muito melhor no paladar e muito mais saudável”, concluiu.

Existem 6 tipos de café: extra-forte (é o último da escala de qualidade), tradicional, superior, gourmet, especial (que está acima de 80 pontos) e extraordinário.