Ministério das Cidades entrega Prêmio Periferia Viva a projetos paraenses

Brasília (DF) – Em um dia voltado completamente ao protagonismo das periferias brasileiras, o Ministério das Cidades promoveu a entrega das premiações aos vencedores da 2ª edição do Prêmio Periferia Viva, que contemplou dez iniciativas do Pará localizadas nas cidades de Belém, Oeiras do Pará, Parauapebas e Salvaterra. Além da premiação, foi lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva o programa Periferia Viva, no Palácio do Planalto, que será coordenado pelo ministério. Ele ressaltou que a criação deste projeto é parte de um compromisso histórico do Brasil com as populações mais vulneráveis.

No total, 178 propostas de todo o Brasil foram premiadas em 2024, mais que o triplo da edição anterior da premiação, a qual reconheceu e premiou 54 iniciativas. O objetivo do Prêmio Periferia Viva é reconhecer, valorizar, potencializar e premiar iniciativas populares, de assessorias técnicas e de entes públicos governamentais que estejam em andamento e que promovam enfrentamento da desigualdade socioespacial e a potencialização e transformação dos territórios periféricos.

De Belém, foram selecionados sete projetos. São eles: “Territórios em Ordem: Regularização Fundiária para a Dignidade Social”; “Araí Cultura”; “Associação Cultural Eu sou Angoleiro Terra Firme – Capoeira Angola Para Todes”; “Campanha Terra Firme Ecocultural: Insurgências Rumo à COP 30”; “Coletivo Lutar Sempre”; “Grupo Folclórico Boi Bumbá Flor do Guamá”; e “Projeto Libras na Periferia”.

As outras cidades contempladas — Oeiras do Pará, Parauapebas e Salvaterra — estão representadas, respectivamente, pelo “Cineclube Ribeirinho Marajoara”, “Dandara Bambula” e “M’barayó – Marajó, Sociedade e Justiça Climática”. Do eixo “Iniciativas Populares”, nove participantes conquistaram o prêmio de R$ 50 mil cada; e um do eixo “Iniciativa de Assessoria Técnica” recebeu o prêmio de R$ 30 mil.

Taires Pacheco, mais conhecida como Tatá Marajó, esteve em Brasília (DF) e participou da cerimônia de premiação do Periferia Viva representando o “Cineclube Ribeirinho Marajoara”, de Oeiras do Pará, município da região do Arquipélago do Marajó. Para ela, foi uma surpresa ter a sua iniciativa selecionada pelo Ministério das Cidades pois não acreditava que o contexto em que vive poderia ser enquadrado como uma periferia.

“Quando inscrevi o projeto, fiz sem uma grande perspectiva de ganhar, porque eu não via a minha comunidade ribeirinha como periferia, então eu não achava que iríamos ganhar porque não estava dentro dessa ideia de urbanismo. Quando passamos, eu fiquei muito feliz porque percebi que, mesmo a gente estando lá na ponta, conseguimos nos conectar com o todo e esse prêmio vai fazer com que a gente consiga ir para muitas outras comunidades”, afirma Tatá.

Sobre o trabalho do projeto para o município, ela explica que o “Cineclube Ribeirinho Marajoara” deixa um importante legado por onde passa. “Oeiras é o município do estado do Pará com a maior população que se considera negra. Somos 91,54% da população que se considera negra e nós temos 15 comunidades quilombolas no município. Nas comunidades que passamos, estruturamos um cinema e deixamos os equipamentos, a estrutura e a formação necessária para que o projeto continue com a comunidade, fazendo suas exibições e seus debates, pois levamos para dentro das comunidades formações na área de audiovisual, de teatro e de capoeira. Por trás disso, há um objetivo maior, que é o de detectar crianças que sofrem abuso sexual, debater o racismo e também discutir sobre a acessibilidade no Marajó, pois não há qualquer infraestrutura pensada para pessoas com deficiência na maioria destas comunidades.”

PROGRAMA PERIFERIA VIVA

Além da entrega do Prêmio Periferia Viva, esta quinta-feira (28) ficou marcada pelo lançamento do programa Periferia Viva. Coordenado pelo Ministério das Cidades, o programa tem o objetivo de enfrentar desafios históricos e transformar a realidade de milhões de brasileiros.

A iniciativa reúne 30 políticas públicas integradas, com foco em urbanização, inovação, fortalecimento social e comunitário. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 16 milhões de pessoas residem em favelas no Brasil, e o Periferia Viva surge como uma resposta concreta às suas demandas.

Com um investimento total de R$ 5,3 bilhões, o programa contempla a urbanização de favelas em 59 territórios periféricos, distribuídos por 48 municípios brasileiros. As ações incluem obras de saneamento, mobilidade, equipamentos públicos, redução de riscos e melhorias habitacionais. Além disso, R$ 300 milhões provenientes do Novo PAC serão destinados à regularização fundiária de núcleos urbanos informais, beneficiando diretamente mais de 285 mil famílias.

Outro destaque é o investimento de R$ 1,7 bilhão para a contenção de encostas em 91 municípios, ação que visa reduzir os riscos de desastres naturais. Com o apoio de universidades e institutos federais, serão elaborados 120 planos municipais de redução de riscos. Em parceria com os Correios, o Ministério das Cidades também viabilizará a criação de endereços postais em favelas e comunidades urbanas, garantindo CEP para todos e facilitando o acesso a serviços essenciais.

O ministro das Cidades, Jader Filho, ressaltou que o Governo Federal deu um importante passo ao evidenciar o protagonismo das periferias. “A criação, pelo presidente Lula, da Secretaria Nacional de Periferias, dentro do Ministério das Cidades, mudou completamente e para sempre o olhar do governo sobre as periferias. Com o programa Periferia Viva, houve o reconhecimento de que elas não são apenas áreas de vulnerabilidade, são também áreas com imenso e vibrante potencial de inovação e resiliência”, declarou.

O presidente Lula também participou do evento e apontou que a criação do programa Periferia Viva é parte de um compromisso histórico do país com as populações mais vulneráveis. “Este encontro é o encontro dos invisíveis. O dia de hoje é o dia em que a periferia deste país se torna visível para o governo e para a sociedade. Porque, no Brasil, tem gente que pode escolher a sua profissão. A pessoa escolhe ser jornalista, engenheiro, sociólogo, escolhe ser qualquer coisa. Mas tem outra parte da sociedade que fica com o que resta. Da mesma forma, tem uma parte que escolhe onde morar, escolhe o bairro, a rua, o condomínio e outros ficam com o que resta. Vocês não serão mais invisíveis. Nós estaremos enxergando vocês.”

Guilherme Simões, da Secretaria Nacional de Periferias (SNP), também enfatizou o impacto da iniciativa. “É um dia histórico, porque as periferias do Brasil, até agora, estão acostumadas a pensar só no hoje – na sobrevivência, no que vai almoçar, no que vai jantar. Com a coragem do presidente Lula, o exemplo de seu governo, e a liderança do ministro Jader, podemos começar a planejar o amanhã. As periferias brasileiras têm o direito de sonhar e de planejar seu futuro”, concluiu o secretário.

O dia voltado às periferias contou, ainda, com apresentações culturais no Festival Periferia Viva. Artistas com origens periféricas e que conquistaram notoriedade nacional e internacional, como a cantora paraense Gaby Amarantos e o rapper paulista Criolo, agitaram o espaço da Torre de TV em Brasília em uma noite de comemoração às periferias brasileiras.