Durante duas semanas, empreendedores dos dois países trocam experiências entre si e com pesquisadores e investidores internacionais
Teve início, no último dia 22, no Sesc Boulevard, em Belém, a primeira edição da nexBio Amazônia no Pará, que segue até o próximo dia 2 de agosto. Durante a programação, sete startups brasileiras; sete startups suíças e cinco pesquisadores de universidades suíças participam de um intenso programa prático que envolve workshops, visitas a instituições governamentais e de pesquisa, laboratórios de inovação, universidades e empresas, reuniões com potenciais clientes e parceiros e troca de conhecimento com a comunidade local, cientistas, mentores e especialistas do setor.
A ideia é que se alcancem soluções inovadoras e sustentáveis a partir da conexão entre esses diferentes segmentos, que, de formas variadas, atuam com a bioeconomia na Amazônia.
No primeiro dia do evento, além de trocas de conhecimentos sobre desenvolvimento de produtos, cultura, regulamentações locais, bioeconomia e região amazônica, foram divulgados os nomes dos empreendedores brasileiros e suiços selecionados para o programa e eles apresentaram os negócios que desenvolvem dentro das respectivas cadeias produtivas existentes na bioeconomia local.
Segundo a CEO interina da Swissnex no Brasil, Bianca Campos, a ideia do programa é que, a partir desse intercâmbio, novas soluções eficientes e sustentáveis possam surgir dentro da bioeconomia amazônica.
“Nosso projeto atua justamente para conectar a Amazônia com a Suíça e trazer essas iniciativas relacionadas à pesquisa, educação e inovação. A gente sempre vê a Suíça aparecendo no topo dos rankings de inovação mundial, e, sem dúvida, é o país mais inovador do mundo. A Swissnex é uma das instituições que vieram para mostrar que a Suíça não fez esse caminho sozinha. Só no Brasil, a gente já está há mais de dez anos e a ideia é justamente ter um time que atue com os parceiros locais, entende e solucione as demandas locais. Acreditamos que é preciso trabalhar com a expertise local. Somos, então, um time de suíços, brasileiros e pessoas de fora morando aqui no Brasil que se unem, justamente para atuar nessa parte de sensibilidade dos negócios ambientais e também social”, frisou.
O gerente de Startup e Inovação da Swissnex no Brasil, Vincent Neumann, explicou que a Swissnex começou o processo da primeira edição da nexBio Amazônia há quase dois anos, quando foi construído o corte das startups que tinham mais potencial para trabalhar juntas. “Agora estamos começando o trabalho real e o mais importante, pois a ideia é, nessas duas semanas, implementar soluções tecnológicas. Então, depois disso, vamos ter os follow-ups, vamos seguir os participantes para saber quem realmente tem o potencial, quem achou os parceiros certos para implementar as soluções deles e, claro, vamos ficar acompanhando e apoiando esses desafios. Então, é muito importante mostrar o mais rápido possível algo se tornando real”, observou.
O gerente de Relações Acadêmicas da Swissnex no Brasil, Pedro Capra, lembrou que, no início do programa, foram identificadas as cadeias produtivas nas quais a Swissnex iria focar. “Naquele momento, a gente entendeu muito mais sobre o que o Estado do Pará tem para oferecer em termos de parceria internacional, colaboração em ciência, tecnologia e inovação. Então, o que estamos fazendo hoje, especificamente, é apresentar as startups que foram selecionadas a partir desse modelo colaborativo criado e institucionalizado no ano passado. Mas esse encontro também sela a nossa parceria com o Estado do Pará. Temos agora 14 startups, mas poderíamos ter muito mais, pois a qualidade foi muito alta. São startups que já venceram prêmios aqui no Brasil, que já venceram prêmios na Suíça. Ou seja, que já têm, nos seus ecossistemas, o sucesso. Já obtiveram, não só sucesso, mas investimentos. Elas já colaboram com outras organizações. E estão todas dentro das áreas que a gente escolheu trabalhar. E o mais importante, elas se complementam em diversos momentos. Conseguimos conectar de alguma maneira todas essas startups e tivemos a sorte de conseguir também a vinda de cinco pesquisadores, que vão ajudar a identificar melhor o que é bioeconomia, um conceito muito mais brasileiro e paraense do que europeu e que vão poder transmitir essa informação com muita precisão e qualidade”, informou.
Borracha – O empresário Francisco Samoneck representa, no evento, a Seringô, uma marca que trabalha com sustentabilidade voltada à borracha natural extraída de seringais nativos da região do Marajó. “O nosso propósito é ajudar as famílias que moram na floresta com renda melhor através da borracha para que elas tenham condições de cuidar da floresta. Nós temos três linhas de produto. A borracha propriamente dita, que vai para calçados sustentáveis; o látex que as mulheres usam para fazer artesanato, e as joias, que têm muito mais valor agregado. A Seringô ajuda por meio de assistência técnica, levando os produtos para o mercado e transformando também o produto deles em produtos sustentáveis”, completou.
Hoje, a Seringô hoje atua com o programa Marajó Sustentável, do Governo do Estado, e a empresa tem a meta de atingir dez mil famílias até 2026. “É exatamente o que eu estou fazendo aqui, buscando recursos para viabilizar esse programa. Essa iniciativa é muito importante, justamente porque estamos tentando internacionalizar a marca, o que necessariamente vai passar por empresas que estão fora do Brasil. E essa parceria bilateral entre Suíça e Brasil é uma grande oportunidade de abrir as portas para o mercado europeu”, analisou.
Moda sustentável – A Da Tribu é outra startup brasileira e paraense abraçada pelo programa. Trata-se de um empreendimento de moda sustentável que também tem na borracha natural da Amazônia seu principal ativo. A empresa desenvolve joias orgânicas e biomateriais, como fios e tecidos para que marcas e criativos possam criar produtos de moda mais sustentável, como roupas, sapatos, bolsas, tudo em parceria com comunidades extrativistas, situadas, principalmente, na região das ilhas de Belém, a exemplo de Cotijuba.
“Nós usamos não só o insumo, não só o ingrediente, que é um ativo da Amazônia, mas temos a participação fundamental de populações em seu território, fazendo aquilo que gostam, com isso a gente consegue impactar de forma direta a comunidade, com geração de renda, de resposta permanente ao território e também. Um produto que vai para o mundo, que é mais sustentável e é amigo do planeta”, relatou a representante da marca, Tainah Fagundes.
Para ela, participar da nexBio Amazônia é uma grande oportunidade de levar o negócio para o mundo. “Quando nos vimos selecionados para o programa, ficamos muito felizes porque estamos podendo mostrar que a borracha amazônica é potente, é criativa e tem a possibilidade de transformar e contribuir com a Amazônia de forma mais integral e inclusiva também. Temos como meta conseguir esses parceiros estratégicos e uma entrada mais forte no mercado internacional”, finalizou.
Sobre o nexBio Amazônia
O programa nexBio Amazônia tem como objetivo reunir startups suíças e brasileiras para atuar em áreas da bioeconomia amazônica. O objetivo principal é iniciar soluções tecnológicas sustentáveis, de curto prazo, fáceis e rápidas de implementar que melhorem a sustentabilidade e a eficiência das cadeias produtivas existentes.
O nexBio Amazônia oferece uma oportunidade de entender o mercado e vivenciar um contexto, paisagem e cultura únicos para desenvolver seu projeto ou produto e expandir sua rede.
Escolha dos participantes
Em parceria com a Fapespa, ILMD Fiocruz Amazônia, Sesc Brasil e Universität St.Gallen (HSG), a Swissnex no Brasil realizou o workshop de cocriação em Belém em novembro de 2023. Foram reunidos 24 especialistas do governo, academia, comércio, indústria e sociedade civil do Estado do Pará em um workshop de cocriação para construir os eixos temáticos do programa suíço-brasileiro de inovação aberta em bioeconomia: nexBio Amazônia.
O objetivo foi definir desafios com as partes interessadas locais para fornecer uma plataforma e um catalisador para que tecnologias suíças e brasileiras fossem implementadas e adaptadas localmente em um curto período por meio de um programa abrangente.
Após o workshop de cocriação, o programa abriu uma chamada priorizando tecnologias inovadoras para quatro setores que têm um potencial particularmente alto e necessidade urgente de soluções inovadoras: cacau e cupuaçu (fruta comestível da Amazônia), óleos essenciais, indústria pesqueira e outros produtos florestais não madeireiros, com necessidade de soluções em Otimização e Automação da Cadeia de Suprimentos, Tecnologias de Garantia de Qualidade e Rastreabilidade, Tecnologias e Gestão da Informação e Comunicação, Empoderamento Comunitário e Inovação Social.
Selecionadas –
Startups brasileiras:
Da Tribu – Tainah Fernandes
SERINGÔ – Francisco Samonek
Amaztrace – Marco Failache Filho
Sensações Amazônicas – Thaís Freitas
Cacaus Biocosméticos – Fabio Neves dos Santos
Pix Force – Luciane Calabria
IN AMAZON – Prof. Dr. LAURO E. S. BARATA
Startups suíças:
Inverto Earth – Cameron Dowd
Amazomel – Dieter Bratschi
Burrus Development Group – Inès Burrus
Foodflows – Matthias König
Inergio S.A. – Eric Frank Romersa
Lynx – Rodrigo Lorca
SwissDeCode – Gianpaolo Rando
Pesquisadores Suíços:
Julianne Freire, University of St. Gallen
Simona Weber, University of St Gallen
PhD Student Samuel Hepner, University of Bern
PhD Student Marcella Marer, University of Zurich
Leo Luca Vogel, University of St. Gallen