Pesquisa da Embrapa recomenda a seleção precoce de porta-enxertos sob copa, para pomares de limeira-ácida tahiti, conhecida comercialmente como limão taiti ou, simplesmente, limão. O trabalho foi divulgado no periódico Acta Scientiarum Agronomy. Fruto de cinco anos de estudos, é a primeira publicação da Amazônia com recomendações da pesquisa de porta-enxertos para a cultura, com resultados concretos para o estado do Pará, terceiro lugar entre os produtores nacionais. Os estudos revelam ainda dados promissores para outros estados na Amazônia.
Durante cinco anos, pesquisadores da Embrapa investigaram o desempenho de sete genótipos de porta-enxertos da Embrapa, sendo eles: Sunki Tropical, BRS O S Passos, BRS Bravo, BRS Donadio, Citrandarin Indio, BRS Matta e LVK x LCR-038. Foram avaliadas, entre outras, características como altura de planta; volume da copa; número de frutos maduros por planta; produtividade total de frutos maduros por planta; produtividade acumulada de frutos (quilos por planta); e eficiência produtiva média.
Os resultados comprovaram elevada eficiência média produtiva, considerando produtividade, estabilidade e adaptabilidade para a seleção precoce. As recomendações ao Pará são os porta-enxertos Sunki Tropical, BRS O S Passos e Citrandarin Indio. Este último, com indicativos promissores para diversos estados da região.
Primeiro autor do artigo, o pesquisador Fábio de Lima Gurgel, da Embrapa Amazônia Oriental (PA), explica que a citricultura na Amazônia, em especial, de limão e laranja no Pará, tem alcançado relevância nacional ao se firmar no ranking dos maiores produtores do País. A vocação regional para a consolidação de uma citricultura sustentável e na produção nacional se dá pela união de condições edafoclimáticas (solo e clima) favoráveis, áreas antropizadas disponíveis e, portanto, sem pressão sobre a floresta, e a crescente adoção de boas práticas e tecnologias.
Caminhos da sustentabilidade
Gurgel afirma que a diversificação com o uso de portas-enxertos nos pomares está entre as boas práticas que garantem mais sanidade, produtividade e sustentabilidade. “A substituição de pomares antigos por plantas em porta-enxertos recomendados e, portanto, mais adaptadas ao estresse hídrico e às principais doenças da citricultura concede à citricultura amazônica vantagens sobre outras regiões”, argumenta, ressaltando a importância das práticas de manejo como poda, adensamento e utilização de coberturas vegetais entre linhas. Ele relata que a Amazônia deve ser uma das raras regiões tropicais do mundo sob a qual ainda não há registros da principal doença que acomete a cultura, o greening (huanglongbing – HBL).
O cientista lembra que é importante listar a proximidade da região com a Europa, uma das principais consumidoras do limão nacional, e claro, a sustentabilidade social, econômica e ambiental. “A atividade gera empregos e atrai investimentos externos e de infraestrutura, com a instalação de agroindústrias. Utiliza-se de áreas degradadas e cobertura de solo, garantindo a regeneração e proteção do solo, e ainda concede aos trabalhadores maior segurança e bem-estar, com árvores mais baixas para a colheita e de maior produtividade.”
Pará é expoente da cultura do limão
O Pará ocupa a terceira posição no ranking nacional, com uma área colhida de 3,9 mil hectares e uma produção de cerca de 87,9 mi toneladas de frutos por ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, sistematizados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca (Sedap).
De acordo com o gerente de fruticultura da Sedap, Geraldo Tavares, com condições altamente favoráveis, é nítida a expansão da cultura para o estado. “Solos profundos e com boa drenagem, aliados à alta pluviosidade durante grande parte do ano, fazem com que a necessidade de irrigação se restrinja a poucos meses durante o ano, reduzindo um dos mais altos custos da produção”, afirma Tavares.
Para o gestor estadual, a sanidade é outro fator crucial como cenário, pois o território paraense é livre das principais doenças como cancro cítrico, pinta preta e greening, moléstias que afetam as regiões sudeste e sul, resultando em custos de manutenção elevados para o controle das doenças e com alta mortandade de plantas. “Defendemos a citricultura paraense como uma atividade promissora e sustentável”, enfatiza.
Pesquisa e adoção de boas práticas impulsionam a cadeia do limão
Localizada no município de Capitão Poço, maior produtor de citros no Pará, a Fazenda Lima atua há 36 anos no estado. Entre as suas atividades estão ações de pesquisa, com foco na adoção de tecnologias e boas práticas, visando garantir qualidade e alta produtividade.
Gestor da fazenda, o empresário Fábio Lima comenta que produz cerca de 8 mil toneladas de limão por ano e tem como principais destinos o estado do Maranhão e o continente europeu. Ele analisa que o mercado externo é exigente e, por isso, considera estratégica a aproximação com a pesquisa na busca por alternativas de substituição dos porta-enxertos, até então, majoritariamente, feitos com limão-cravo; estes, muito suscetíveis à gomose, um grande problema da citricultura regional.
A fazenda, parceira da Embrapa junto ao Programa de Melhoramento Genético de Citros, foi onde a pesquisa realizou os estudos que resultaram na recomendação dos primeiros porta-enxertos. Para o empresário, a região tem capacidade de liderar a citricultura nacional e, para isso, precisa estar alinhada às novas tecnologias. “No meu ponto de vista, é a região mais promissora para citricultura no Brasil, em função da disponibilidade de área, clima favorável e área livre das principais pragas e doenças da cultura”, ressalta.
Autores do artigo
O artigo Early rootstock selection under ‘tahiti’ acid lime crown in Capitão Poço, Pará State, Brazil é assinado pelos pesquisadores Fábio de Lima Gurgel, Embrapa Amazônia Oriental; Keny Henrique Mariguele, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri); Gilberto Ken Iti Yokomizo, Embrapa Amapá; Romeu de Carvalho Andrade Neto, Embrapa Acre; Eduardo Augusto Girardi, Orlando Sampaio Passos e Walter dos Santos Soares Filho, da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Sustentabilidade da cultura está na diversificação
O pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) Walter dos Santos Soares Filho, líder do Programa de Melhoramento Genético de Citros da Embrapa, destaca a importância do trabalho em rede na Região Amazônica. “Falamos sempre em degradar o mínimo as áreas, inclusive na Amazônia. Então, o que nós oferecemos à Amazônia vai ser de grande impacto para a região e para o País de um modo geral: porta-enxertos ananicantes e semi ananicantes, que vão implicar menor uso de área. Um exemplo é o BRS Bravo, que é semiananicante, com previsão de lançamento em 2025. A área plantada dele vai ser, no mínimo, dois terços de uma área plantada com porta-enxerto tradicional”, explica.
Além disso, os novos materiais indicados também facilitam a colheita de frutos. “Cerca de 40% dos custos de produção estão na colheita,; esses custos são maiores até do que os de defensivos agrícolas”, afirma o pesquisador. Soares Filho justifica a importância na diversificação de uso de variedades porta-enxerto, com suas peculiaridades e características próprias, como garantia na sustentabilidade da citricultura. “Se uma variedade, por exemplo, vai mal ou se vem alguma doença específica e liquida essa variedade, é preciso ter outras para dar sustentação aos pomares”, reforça.
O pesquisador Orlando Sampaio Passos reitera a importância da diversificação. “Não somente na citricultura, mas em qualquer atividade, no comércio ou na indústria, é importante diversificar. Em todo o Norte, em todo o Nordeste e parte do Centro-Oeste, o porta-enxerto é único, o limoeiro cravo, que tem problema sério com as duas principais variedades no Brasil que são a laranja pera, por conta do problema do declínio, e a limeira-ácida tahiti, atacada pela gomose, causada por Phytophthora.”
Passos recorda sua impressão equivocada ao conhecer a citricultura da Amazônia. “Eu não acreditava no potencial da região por causa do elevado regime de chuvas, mas, quando visitei os pomares, verifiquei que, apesar de não haver um nível tecnológico adotado nos pomares, a produtividade era alta, com média em torno de mil frutos por planta, podendo chegar a 40 toneladas por hectare.
Fonte: Embrapa Oriental