O professor Juan Henrique da Silva, de 40 anos, foi o primeiro paciente do Pará a receber um transplante musculoesquelético. A cirurgia de alta complexidade ocorreu pelo SUS, na última terça-feira, 16, no Hospital Maradei.
Juan reside no município de São Sebastião da Boa Vista, localizado na região da Ilha do Marajó. Em janeiro do ano passado, sofreu um acidente de moto e rompeu três ligamentos do joelho.
Segundo o médico que o operou, o ortopedista e especialista em cirurgia de joelho, João Alberto Maradei, o transplante foi para reconstruir, de modo simultâneo, os principais ligamentos do joelho direito do paciente. A cirurgia durou pouco mais de 03h e foi considerada um sucesso.
O ortopedista explica que Juan apresentou um quadro ideal para realização do transplante. “Quando não temos o enxerto do banco de tecidos, a alternativa é retirar os tendões dos dois joelhos do próprio paciente, quando ele autoriza. Ou seja, inclusive do joelho que está bom. Mas Juan rompeu três ligamentos importantes e, com o enxerto doado, a cirurgia foi realizada somente no joelho acidentado, sem retirar enxerto de nenhum de seus joelhos, o que é uma grande vantagem, pois o procedimento torna-se menos agressivo para o paciente, a cirurgia dura menos tempo e a reabilitação é mais rápida.”, explica.
O enxerto para o transplante chegou na noite da última segunda-feira, 15, em Belém, proveniente de São Paulo, do Banco de Tecidos Musculoesqueléticos do IOT – Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP.
Juan conta que, após o acidente, passou por tratamento no joelho e voltou a andar, mas ainda sentia muito desconforto, o que restringia algumas de suas atividades. Agora, com o transplante, ele espera recuperar a flexibilidade da perna, caminhar sem dor e voltar a jogar bola com os amigos.
“Espero voltar às minhas atividades normais, mostrar o resultado de todo esse processo e voltar a jogar um futebolzinho, pois tinha medo de jogar e piorar o joelho.”, conta com bom humor.
Mas, antes de dar o primeiro chute, o professor precisará passar por um período de pelo menos nove meses de fisioterapia. “É a parte mais demorada do tratamento, mas é necessária para que ele se reabilite bem.”, ressalta o ortopedista.
Sobre o transplante musculoesquelético
O transplante musculoesquelético beneficia pacientes com perdas ósseas decorrentes de traumatismos graves, tumores, deformidades congênitas, lesões ligamentares das articulações, e em alguns casos de troca de próteses articulares, as chamadas revisões de artroplastias (sobretudo do joelho e quadril).
O material para o transplante inclui ossos, tendões, cartilagens, meniscos e demais tecidos responsáveis pela sustentação e movimentação do corpo humano. É proveniente de doadores e é captado, processado, armazenado e distribuído por bancos de tecidos. No Brasil, há apenas cinco bancos de tecidos (nos estados de SP, RJ e RS) para atender hospitais em todo o país.
Quem pode doar tecido musculoesquelético
Estão habilitadas a doar, pessoas entre 10 e 70 anos que não tenham tido doenças infecciosas (transmitidas pelo sangue), câncer ósseo e osteoporose avançada. A doação pode vir de pessoas vivas ou de cadáveres.
Número de pessoas beneficiadas com a doação
Cada doador pode beneficiar cerca de 30 pacientes, ou seja, serão 30 cirurgias realizadas, um número considerado alto pelos especialistas.
No Pará, o Hospital Maradei é o único habilitado a realizar esse tipo de transplante, após passar por rigorosas etapas de certificação no ano passado, envolvendo avaliação da Sesma, da Central Estadual de Transplantes – CET-PA e do Ministério da Saúde.