Alta expressiva de dezembro foi especialmente atribuída a fatores sazonais e à substituição do consumo de bens por serviços
O crescimento do setor de serviços de 3,1% em dezembro e de 8,3% no acumulado de 2022 consolida o processo de retomada das atividades após a restrições impostas pela pandemia, opinam analistas. Mas eles argumentam que esse impulso mais tende a se dissipar naturalmente ao longo de 2023, que também deve sofrer influência dos efeitos da política monetária mais restritiva.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, ponderou que a evolução expressiva na atividade na comparação mensal deve ser relativizada devido a fatores sazonais.
O grupo Outros Serviços, por exemplo, que cresceu 10,3% no mês, tem em sua composição atividades ligadas ao setor de cultura e entretenimento, mais consumidos por conta do período de férias escolares, assim como serviços esportivos, cuja demanda sobe por conta do verão e do ambiente mais propício para prática de esportes.
“O grupo de Outros serviços fechou o ano com queda de 2,1%. O resultado ajuda a traduzir a característica do crescimento do País, fundamentado sobre um processo de recomposição do nível de oferta e demanda e não de uma expansão efetivamente sustentável no tempo”, comentou Pizzani.
Segundo ele, é importante se atentar para o fato de que a política monetária restritiva tende a inibir justamente o consumo dos serviços que integram este grupo, que possuem caráter supérfluo e deixam de ser demandados na medida em que a condição financeira das famílias se deteriora.
Sobre a alta de 8,3% no indicador geral do ano, o economista da CM Capital atribuiu o “comportamento extraordinário” ao processo de recomposição do setor após o período mais grave da pandemia, com a retomada das atividades presenciais beneficiando de maneira geral os componentes do indicador.
Nesse sentido, ele destacou o grupo de Serviços prestados às famílias, que cresceu 24% no ano, impulsionado especialmente pela alta de 24,4% do segmento de serviços de alojamento e alimentação. “O desempenho pode ser explicado pela retomada das viagens profissionais e de lazer por parte da população, que servem para dinamizar setores como os de hotelaria, restaurantes, entre outros”, afirmou.
A XP Investimentos ressaltou em análise que a alta expressiva do mês, bem acima da estimativa de 1,5%, mais do que compensou a queda acumulada de 1,0% nos dois meses anteriores. Um ponto importante, no entanto, é que o setor terciário cresceu 1,0% no trimestre no quarto trimestre, desacelerando em relação ao avanço de 3,0% visto no terceiro trimestre.
Os fortes números registrados no final do ano passado também receberam da XP uma ressalva por conta da contribuição de Outros Serviços, considerado muito mais volátil do que a média de todo o setor. “Reforçamos a necessidade de cautela adicional na avaliação das séries dessazonalizadas no final de 2022. Por exemplo, o impacto da Copa do Mundo e maior volatilidade dos deflatores setoriais”, pontuou o economista Rodolfo Margato em sua análise.
Para o futuro, o economista da XP disse acreditar que as receitas reais de serviços crescerão a um ritmo mais moderado em 2023, com previsão de alta de 2,5% ante 2022, “em linha com a dissipação do impulso ‘pós-Covid’ e uma procura mais fraca por parte das empresas.”
Com isso, a XP prevê que o PIB do Brasil esfriará significativamente em 2023, após um crescimento mais forte do que o esperado em 2022. Mas a projeção de 1% para o crescimento da economia deste ano está “inclinada para cima”.
O Goldman Sachs fez o mesmo alerta de que as impressões mensais do indicador têm sido muito voláteis, “pois os filtros sazonais mostram grandes descontinuidades em determinados intervalos”. Mas destacou que a expansão da atividade de serviços em dezembro foi ampla, em 4 dos 5 grandes grupos.
Na análise do banco de investimentos, a atividade de serviços deve receber em 2023 alguma benefício da renovação dos estímulos fiscais, do mercado de trabalho firme e da inflação em retração. No entanto, vão pesar contra a atividade do setor a perda do impulso “pós pandemia” e a as condições monetárias e financeiras domésticas apertadas.
O Goldman Sachs aponta ainda como fatores de contenção dos serviços os elevados níveis de endividamento das famílias, a moderação da criação de emprego, a deterioração da confiança dos consumidores e das empresas e a incipiente recuperação da economia ciclo de crédito, especialmente no primeiro semestre do ano.
Para o Banco Original, o desempenho dos serviços parece explicar o número do varejo ontem, mostrando que as famílias trocaram consumo de bens por serviços no curto prazo. “O resultado do setor fez nossa projeção de IBC-Br subir de -0,3% para mais de 0,1% em dezembro, uma boa alta em relação as últimas duas quedas, e sugere um PIB de 3,1% em 2022”, previu.
O BTG Pactual destacou a aceleração na difusão da alta do setor, para 67%, a maior desde agosto de 2022. O banco afirmou ainda que leitura de hoje reforça que segmento deve mostrar em 2023 resultados bastante desiguais, com os grupos menos dependentes de crédito apresentando resiliência em meio a um mercado de trabalho fortalecido e aumento da massa salarial real.
“Além disso, entendemos que os resultados sinalizam que a desaceleração deve ter menos impacto no mercado de trabalho, com manutenção da criação de postos em Serviços prestados às famílias.”
O BTG lembrou que para janeiro, a confiança do setor de serviços recuou 2,7 pontos, atingindo o menor nível desde fevereiro de 2022, influenciada principalmente pelo aumento das incertezas com a política econômica à frente.
Fonte: Infomoney