Recuperação dos mercados americanos e europeu, além de sanções comerciais impostas à Rússia e Bielorrússia, são apontadas como fatores para o bom desempenho do mercado internacional de madeira paraense
As exportações paraenses de madeira somaram US$ 351 milhões em 2022, valor 76% acima do ano anterior. Os dados fazem parte do balanço anual das exportações de madeira pelo Pará, elaborado e divulgado pela Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará (Aimex), com base em estatísticas fornecidas pelo COMEX STAT – Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Além do valor movimentado, o estudo também apontou um crescimento de 23,9% na quantidade de madeira exportada, com um total de 262 mil toneladas de produtos, contra 211 mil toneladas em 2021. O resultado positivo foi puxado, sobretudo, pelo bom momento vividos pelas exportações no primeiro semestre do ano, com a gradual retomada da economia pós-pandemia, principalmente nos Estados Unidos e União Europeia, maiores importadores de madeira do Pará.
“Os gastos pesados destes países, para estimular e recuperar suas economias, impulsionou o consumo como um todo e, entre eles, a construção civil, o que refletiu no aumento da demanda e dos preços dos produtos de madeira”, analisa o consultor técnico da Aimex, Guilherme Carvalho.
Sozinhos, os EUA importaram 65 mil toneladas de produtos de madeira do Pará, com destaque para a madeira perfilada (pisos, decks, tacos e frisos), que respondeu por metade das importações americanas no período. A madeira perfilada também foi o item mais enviado para a União Europeia, segundo maior mercado dos produtos paraenses.
E, na análise do consultor da Aimex, o mercado europeu foi um dos fatores determinantes para o crescimento do comércio internacional paraense de madeira, principalmente devido às sanções comerciais impostas à Rússia em decorrência da guerra contra a Ucrânia, reduzindo a compra de madeira russa e também da Bielorrússia pela União Europeia e a consequente substituição dessas pela madeira tropical.
“Isso fica claro quando observamos relatório produzido pela Organização Internacional de Madeira Tropical (ITTO), que apontou uma redução de mais de dois milhões de toneladas nas importações de madeira da Rússia e mais de um milhão de toneladas da Bielorrússia de janeiro a setembro deste ano. Em contrapartida, os países que compõem a União Europeia aumentaram em grande quantidade a importação de madeira tropical, tanto em valor quanto em volume, sendo o Brasil o quarto país que mais cresceu em exportação para a Europa. No período já citado, o país exportou US$ 285 milhões e 191 mil toneladas”, explica Guilherme Carvalho.
Outro destaque do balanço foram os painéis de fibras de madeira aglomerada, que conhecermos popularmente por MDF. Esse produto, que não costumava aparecer na pauta de exportação de madeira, já figura como o terceiro principal (8%), atrás apenas da madeira perfilada (70%) e da madeira serrada (16%).
Futuro – Apesar do forte crescimento, o cenário para o futuro das exportações de madeira, o quarto principal item da balança comercial paraense, atrás do minério, pecuária e grãos, não é tão animador. Por exemplo, a relação preço médio por tonelada exportada veio caindo nos últimos meses e fechou o segundo semestre de 2022 com queda de 34,16% (US$ 1.049,43 US$/Ton.) em comparação com o primeiro semestre (1.593,94 US$/Ton.), consequência do aumento da instabilidade na economia mundial.
“Podemos atribuir isso principalmente aos seguintes fatores: a possibilidade de uma retração econômica mundial devido o aperto monetário para conter a inflação, guerra na Ucrânia, aumento do custo de energia além da preocupação com desaceleração da economia chinesa, que pode impactar negativamente as exportações de madeira no Pará”, analisa Guilherme Carvalho.
Já o diretor técnico, Deryck Martins, também da Aimex, acrescenta ainda outro fator que pode despontar como desafio para o setor madeireiro em 2023. “A recente inclusão do cumaru e do ipê, duas espécies importantes para a produção de madeira, no anexo da Cites – Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, vai impactar na exportação, uma vez que exigirá mais uma licença dentro de um processo já extremamente burocrático, elevando ainda mais os custos de transação”, avalia.