Em nova fase, projeto ‘O Pará Virou Moda’ abre perspectivas para mulheres em situação de vulnerabilidade

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Levantamento publicado recentemente pela Global Fashion Agenda, organização sem fins lucrativos, apontou que a indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo, atrás apenas da indústria petrolífera, sendo que mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartadas em anos recentes. E a projeção é de um aumento de 60%, algo superior a 140 milhões de toneladas, nos próximos oito anos.

Uma proposta que não só diminui o passivo gerado pelo descarte de peças de roupas utilizadas no segmento corporativo, como também possui um viés social, ao promover a geração de renda para mulheres egressas do sistema penal, é a que está sendo trabalhada na nova fase do projeto ‘O Pará Virou Moda’, iniciada há pouco mais de dois meses. Coordenado pelo estilista Tony Palha e pelo produtor Tiago Gomes, o projeto investe na sustentabilidade ao reutilizar uniformes que seriam incinerados ou descartados para a produção de novas peças de roupas.

A iniciativa nasceu no final de 2019, com o patrocínio da Equatorial Energia e parceria da Fábrica Esperança, e ganhou uma importante vitrine durante a Semana de Moda de Milão, na Itália, realizada no início deste ano, onde foram apresentados alguns dos modelos criados a partir do reaproveitamento desse material que iria para o lixo. O projeto, aliás, é o primeiro do Norte do País a conquistar esse espaço.

Agora, em nova etapa, o ‘Pará Virou Moda’ ampliou o público-alvo ao levar as oficinas, antes restritas às instalações da Fábrica Esperança, para as Usinas da Paz instaladas na Região Metropolitana de Belém, onde mulheres em situação de vulnerabilidade recebem aulas de corte e costura e aprendem a trabalhar com o universo da moda.

“Vale ressaltar que nessa etapa as oficinas ganharam o incremento de material, já que estamos recebendo doações [de uniformes] tanto da Equatorial como de outras empresas que passaram a apoiar o projeto”, revela Tiago Gomes.

Os primeiros resultados desse trabalho serão divulgados nos dias 3 e 4 de dezembro, durante a edição 2022 da Pará Negócios, maior feira do gênero da região Norte, que volta ao Hangar Centro de Convenções, em Belém, sob a organização da Associação Comercial do Pará (ACP). ‘O Pará Virou Moda’ dividirá um estande com a Fábrica Esperança durante o evento para divulgar o que vem sendo produzido pelas mulheres que participam das oficinas.

“Vamos expor alguns materiais utilizados nas oficinas, levaremos manequins vivos e também teremos pessoas explicando como funciona essa iniciativa. Além disso, será possível conhecer mais sobre o projeto acessando o QR Code com a história do Pará Virou Moda”, explica Thiago Gomes. Está prevista, ainda, a realização de um desfile com os modelos criados durante as oficinas ministradas na unidade do Icuí-Guajará, em Ananindeua.

Tony Palha comenta que as oficinas levam, em média, duas semanas para serem realizadas em cada local e oferecem certificação. “Na Usina da Paz do Icuí foram beneficiadas 60 mulheres, divididas em três turmas de 20 pessoas cada. A ideia é levar essas oficinas para outros locais”, completa.

Além da Equatorial Energia, que é também a principal patrocinadora do projeto, ‘O Pará Virou Moda’ passou a contar com a doação de uniformes descartados pela Dínamo, pela ORM Cabo e pela própria Fábrica Esperança, o que amplia a possibilidade de atuação do projeto.

“As nossas oficinas são destinadas a um público base, motivado e têm nos trazido resultados muito bons. Durante o curso, a produção de uma roupa passa por 10 mãos, isso é que é o legal. Esses mesmos alunos já vão fazer a segunda oficina, de caráter profissionalizante. Depois dessa etapa, eles poderão criar roupas ou acessórios para vender em feiras, por exemplo, e se transformar em pequenos empresários. Essa é a grande motivação do nosso projeto” diz Tony.

Quem também se juntou recentemente ao projeto foi a Bella Bijoux, que passou a doar os acessórios que seriam descartados para reutilização no ateliê. As técnicas desse trabalho serão repassadas em oficinas de customização a serem ofertadas para as mulheres atendidas nas Usinas da Paz.

Após o Natal, as oficinas serão direcionadas para a produção de novas peças, a serem apresentadas na próxima edição da Milan Fashion Week. “Nossa expectativa é fazer novas parcerias com faculdades de moda para ampliar ainda mais o projeto”, comenta Tony.

Outro braço do Pará Virou Moda será a instalação de uma loja colaborativa, que vai ajudar na comercialização das peças criadas a partir das oficinas. O espaço onde funcionará a loja ainda está sendo definido, mas, a previsão é de que no início do próximo ano ela já esteja aberta ao público.

Especialistas avaliam que é necessário e urgente um esforço de toda a sociedade para construir uma indústria têxtil, de roupas e acessórios, mais sustentável. Segundo especialistas, a decomposição de roupas pode levar até centenas de anos quando feitas de fibras sintéticas, e os componentes químicos podem contaminar o solo e a água, sem falar nos gases de efeito estufa emitidos na cadeia de produção e no descarte.

A boa notícia é que o perfil do consumidor brasileiro está mudando, contribuindo para impulsionar novas estratégias de consumo consciente e abrindo mercado para as roupas criadas com esse conceito, já que a questão da poluição e do alto consumo de recursos naturais ainda permanece um desafio para o setor.

Com informações da assessoria