A dependência química é uma doença crônica e multifacetada que requer a ação de vários profissionais em conjunto
A dependência química é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença crônica e progressiva, que piora com o passar do tempo, gera outras doenças e pode ser fatal. Dados de uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontaram que 9,9% da população brasileira já consumiu drogas ilícitas em algum momento da vida. Em relação ao álcool, a pesquisa afirmou que 34% dos indivíduos menores de 18 anos já consumiram, sendo que 5% (cerca de um milhão de adolescentes) relataram consumo excessivo.
Mônica Azevedo, assistente social especialista em dependência química e responsável pela clínica Voo de Liberdade, defende o tratamento multidisciplinar, ou seja, a combinação de diversas terapias feitas por diferentes profissionais da área da saúde. Segundo Mônica, o transtorno é multifacetado, por isso é necessário ter uma equipe completa para dar conta de algo que atinge todas as áreas do indivíduo.
“Na clínica, nós temos uma equipe completa de profissionais de saúde, com técnico em enfermagem, enfermeiro, médico psiquiatra, médico clínico, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outros. Temos também outras terapias integrativas e complementares, como yoga, musicalização e jardinagem. As terapias fazem parte do cronograma de atividades dos pacientes, que dura o dia inteiro. Alguns pacientes se identificam mais com um tipo de terapia, outros com outra, mas é importante que a pessoa passe por todas”, afirmou a assistente social.
Além de proporcionar terapia ao paciente, Mônica também se preocupa em tratar a família de cada dependente, porque, de acordo com ela, é uma parte fundamental para que o tratamento tenha êxito. “Eu vejo que sem o apoio familiar, sem que a família participe das reuniões, o tratamento do paciente não dá certo. Ele sempre fica reincidente, porque quando volta para o seio familiar, depois do tratamento, a família não mudou e os gatilhos todos continuam lá. A família, geralmente, é a fonte geradora de todo o adoecimento do dependente, então se a família também não muda os hábitos, nada vai mudar”, explicou.
Dependência química é uma doença que não tem cura, mas tem controle. A pessoa deve praticar abstinência e, para conseguir, precisa se tratar pelo resto da vida. “Assim como quem tem HIV, diabetes e hipertensão, o dependente químico deve estar sempre no controle, senão a doença volta. É claro que a frequência do tratamento vai diminuindo conforme a pessoa vai aprendendo a ter ferramentas para conseguir ficar sem utilizar a droga. Para muita gente, a droga é como uma muleta ou como uma fuga de situações que ela não gosta de encontrar nela. Por isso, a gente não trata só as consequências do uso da droga, a gente trata os gatilhos que levam a pessoa voltar a usar”, contou Mônica. Na clínica Voo de Liberdade, o paciente é acompanhado de forma mais direta por cinco anos. Depois desse período, continua sendo tratado com uma consulta por mês.
Para Mônica, o maior desafio do tratamento é a pessoa permitir ser tratada pelo resto da vida. “Às vezes, quando o paciente melhora um pouco, ele se sente autossuficiente, acha que já pode fazer as coisas, não evita mais os locais para onde ele ia, não evita mais as pessoas com quem ele saía, e os hábitos voltam. Se fizer direitinho o que é sugerido pela equipe multidisciplinar, nenhum paciente recai. A gente sabe como tratar, mas é preciso que ele tenha disciplina para seguir. Quanto mais tempo se cuidando, mais habilidades eles desenvolvem para não voltar à dependência”, informou.
Os três primeiros meses de tratamento, na opinião de Mônica, são os mais difíceis e dolorosos, porque a abstinência ainda é muito forte. “Alguns pacientes demoram muito tempo para melhorar e outros rapidamente entendem o processo, isso é muito individual, mas tem uma média que é de 4 a 6 meses de internação e tratamento para que a gente comece a ver as melhoras. O cérebro do dependente fica ali aguardando que venha algo artificial, porque se acostumou com isso, então demanda um tempo para que a pessoa consiga ter prazer novamente na vida de uma forma natural”, declarou a assistente social.
Com informações da assessoria