
Enquanto indústrias e serviços de vários segmentos sentiram o forte impacto das restrições impostas pela pandemia no Brasil, o setor de bicicletas viu os lucros aumentarem. Em 2020, lojas de bike, em todo o Brasil, registraram crescimento de 50% de vendas em relação a 2019, segundo levantamento da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike). O início do segundo semestre de 2021 superou em 34% o do ano passado, no país. Porém, hoje este mercado vive um momento instável e os empresários apostam em novas alternativas para manter as vendas aquecidas. Sobre o assunto, conversamos com o dono de uma das maiores lojas do segmento na Região Norte, Alann Rezende, da Ciclor Bike Shop, que comenta sobre a realidade destes dados no Pará e conta como a loja atravessou este período.
Como a Ciclor Bike Shop atravessou o momento de pandemia?
Alann – No início ficamos totalmente fechados, creio que isso durou aproximadamente dois meses e meio. Isso fez com que nosso faturamento caísse para zero. Então, foi um impacto financeiro muito grande. Nessa época, nós também não tivemos ajuda dos bancos privados, não tínhamos processo de captação de recurso e isso tornou a situação mais difícil. Alguns fornecedores também não aceitaram a situação, criaram dificuldade com as negociações e até abandonaram a empresa, não comercializando mais com a gente. Outros fornecedores, já mais estruturados, parceiros, entenderam perfeitamente e se uniram a gente para criar soluções e dessa forma, nós conseguimos passar juntos por essa situação.
Segundo levantamento da Aliança Bike houve aumento nas vendas de bikes em 2020. A Ciclor percebeu esse crescimento nesse período?
Alann- Logo após a liberação do lockdown, em junho, houve uma procura muito grande em nível mundial por bicicletas, ou seja, não só aqui em Belém ou no Brasil, foi um crescimento a nível mundial justamente por conta das academias fechadas, das atividades ao ar livre proibidas. A bike é uma opção de lazer, de saúde e de atividade esportiva ou ao ar livre, que não tem muito contato e permite fazer muitas ações, o que levou a uma procura muito grande por todo o mercado de bicicletas. Aqui na Ciclor Bike Shop, nessa época, conseguimos vender mais produtos como bicicletas e acessórios e os serviços também começaram a aumentar de junho até dezembro fazendo com que a gente tivesse um aumento de vendas de 2020 em relação a 2019 de 25%.
Em que ferramentas a loja investiu para manter seu relacionamento com o cliente?
Alann – Três meses antes do lockdown tínhamos lançado no mercado nossa loja virtual, o www.shopdabike.com.br. Fomos a primeira loja desse segmento aqui no Norte a desenvolver uma plataforma de vendas e isso ajudou muito porque começamos a vender nossos produtos para mercados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, e isso deu força pra gente investir mais nesse processo. Também criamos serviços e sistemas de delivery, de apoio, de venda de acessórios, buscar bicicletas de grupos de clientes para fazer revisão na loja, sempre tomando todos os cuidados com os procedimentos de vigilância sanitária e isso manteve a loja viva com relacionamento com clientes e dando conta também de atuar nessa nova frente, nessa nova demanda que estava surgindo naquela época.
Como você avalia hoje o setor? Já voltamos a ter uma movimentação parecida com o cenário antes da pandemia?
Alann – Houve uma mudança muito radical, uma queda de vendas enorme nos últimos quatro meses, pela falta de produtos de melhor valor agregado. Nós, por exemplo, trabalhamos com uma linha de bicicletas mais modernas e essa linha tem uma procura muito grande ainda, mas está em falta em todo mercado nacional e internacional. Isso fez com que nossas vendas caíssem muito. Já o mercado de bicicletas para quem está começando, está encontrando outro tipo de dificuldade: o público consumidor desse produto não está mais investindo. Eles voltaram pra academia, voltaram para suas viagens, para suas ações e suas atividades. Um pouco antes dessa queda, muitas lojas foram inauguradas em Belém e no interior do Estado, pois o mercado estava crescendo, muitos empresários investiram, mas esse público que consumia não está mais aparecendo e para as lojas de produtos mais elevados há muita procura, mas não tem produto. Então estamos vivendo uma situação bem volátil e precisamos estar preparados, sempre com apoio dos fornecedores para entender essa mudança que está tendo e esse impacto. Temos que considerar as altas dos preços de produtos também, que mudou muito. As bikes também tiveram mudanças de preços consideráveis em todo o cenário nacional. Bicicletas que custavam R$2 mil, há dois anos, estão custando hoje mais de R$ 3.000.
Diante de sua experiência, que dicas você deixaria para os empresários também afetados por este cenário?
Alann – Pensando em soluções para o futuro, minha dica é sempre investir em inovação no serviço, atendimento, ações externas, não só ficar esperando o cliente na loja. Recentemente adquirimos um furgão enorme que tem a capacidade de levar até quinze bicicletas de uma estrutura muito grande de apoio, de acessórios, que está nos permitindo está no interior e outros lugares para fazer ações de vendas, exposições de produtos, promoções, apoio e promoções, patrocínios de eventos de pedal, que são algumas das alternativas que têm nos mantido em pé.