Alimentação saudável: um bom negócio antes, durante e depois da pandemia

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Manter uma dieta bem equilibrada, com todos os nutrientes necessários para a manutenção da saúde do corpo e da mente é o objetivo de qualquer adulto. Com a pandemia e uma maior preocupação com o sistema imunológico, mais pessoas buscaram consumir produtos in natura no país, no entanto, nas regiões Norte e Nordeste, aumentou a ingestão dos ultraprocessados – produtos industrializados com alto teor de açúcares, sais, adoçantes, corantes, aromatizantes e conservantes. É o que mostra um estudo desenvolvido pela NutriNet Brasil, da Universidade de São Paulo (USP).

Em Belém, são várias as opções de estabelecimentos que atuam exclusivamente com alimentação saudável. É o caso do Santa Orgânica, que inclui em seu cardápio alimentos próprios para celíacos – pessoas que têm reação ao glúten. O proprietário, João Barros, conta que sua história com o restaurante começou em 2017, quando foi diagnosticado com câncer no rim e precisou fazer uma cirurgia para a retirada do órgão. Desde então, passou a estudar sobre as causas prováveis da doença e decidiu mudar de hábitos. Nessa época, João passou a frequentar o restaurante Santa Orgânica, até que, um ano depois, apareceu a oportunidade de comprar o local.

“Essa foi a minha entrada para o ramo de restaurantes, pois eu já possuía experiência de 20 anos no segmento da gastronomia. Somos praticamente o único restaurante em Belém a trabalhar para os celíacos com total segurança e sem contaminações cruzadas. Os celíacos nos têm como um oásis. Também somos muito procurados pelos clientes fitness, que buscam uma alimentação com um menor efeito inflamatório”, revela João.

João Barros, proprietário do Santa Orgânica
Foto: Arquivo pessoal

O empresário pontua que os maiores desafios enfrentados pelo segmento são os altos preços das matérias-primas e o preconceito das pessoas em geral pelo sabor da comida, pois imaginam que uma refeição saudável não deve ser gostosa. Com a pandemia, o restaurante teve uma queda de público e faturamento, e sentiu o aumento dos preços dos insumos. Mesmo assim, a busca pelos produtos oferecidos segue alta: há os clientes que procuram devido a alguma restrição ao glúten e a lactose e os optantes por uma alimentação mais saudável, funcional e menos inflamatória.

“O mercado de produtos saudáveis teve um crescimento muito bom nos últimos anos. Tendo sido diminuída a procura devido ao inesperado surto de covid-19, que é algo fora da realidade de qualquer planejamento ou movimento de mercado. Agora, percebemos a vinda de novos clientes que conquistamos pelo delivery e também aqueles que identificaram na alimentação um meio de aumentar sua saúde e por consequência sua imunidade”, diz.

Os mesmos desafios são apontados pelo diretor do Santé Saudável, Rafael Menezes. Ele pontua que a conscientização da importância da alimentação saudável, a necessidade de tornar esse serviço mais acessível ao público e desmistificar que alimentação saudável é sinônimo de comida sem graça são passos fundamentais para expandir o alcance desse tipo de alimento.

Rafael Menezes, diretor do Santé Saudável
Foto: Vívian Dantas

No restaurante, criado em 2014, são trabalhados alguns diferenciais, como o uso de produtos frescos, ingredientes regionais, e embalagens termosoldáveis, proporcionando maior segurança aos alimentos. Mesmo com a pandemia, em comparação a 2019, o faturamento do Santé cresceu cerca de 19%. De acordo com Rafael, as pessoas que mais procuram a alimentação do espaço são homens e mulheres a partir de 24 anos, profissionais liberais, empresários, pessoas das classes A e B em geral. Alguns buscam por conta das dietas de emagrecimento e a maioria por necessidade de mudança de hábitos.

Saúde em primeiro lugar

Foi justamente essa necessidade que levou a designer Jéssica Bezerra, há alguns anos, a buscar uma alimentação balanceada. Ela explica que nem sempre consegue manter a disciplina e o foco, principalmente aos finais de semana, mas diariamente reduz carboidratos e gorduras da alimentação, preferindo ovos cozidos aos fritos, por exemplo.

“São coisas simples, que não me custam mais. Acho que a questão é comer menos industrializados, mais frutas e legumes, mas não cortar totalmente aquilo que você gosta de comer e te faz feliz. Acredito que para ser uma alimentação saudável não precisamos tirar o chocolate ou o hambúrguer, por exemplo, mas podemos incluir de uma maneira inteligente na nossa rotina, de uma forma que sempre exista um equilíbrio”, defende.

A designer Jéssica Bezerra alia alimentação à prática de exercícios para manter a saúde e a autoestima
Foto: Arquivo pessoal

Quando questionada sobre o que a motivou a mudar os hábitos, a designer cita a saúde e a autoestima. “Antes eu não tinha rotina alimentar e não fazia qualquer tipo de exercícios. Comia de tudo, a qualquer hora. No início, eu não me sentia mal por isso, mas com o tempo eu comecei a sentir que precisava mudar por conta da saúde, sim, mas também por uma questão de autoestima. Eu não estava me amando, não me sentia bem com meu próprio corpo. Foi quando resolvi mudar. Eu decidi que iria ser a mulher que eu queria, então foi o que eu fiz. Comecei a me alimentar melhor e me sentir muito melhor também! Com mais energia, saúde, me sentindo mais forte não só fisicamente, mas psicologicamente também”, conclui Jéssica.

Para a professora dos cursos de Gastronomia e Nutrição da Universidade da Amazônia (Unama), Keilla Cardoso, uma alimentação adequada deve se caracterizar pela variedade, equilibrando a ingestão de todos os grupos de macronutrientes, como carboidratos, proteínas e lipídeos; ser colorida; rica em vitaminas e sais minerais e que evite os extremos, como excessos e exclusões.

“É preciso utilizar a criatividade, as diferentes técnicas dietéticas, possibilitando novas experiências gastronômicas e incluindo no cardápio alimentos vegetais e in natura, diminuindo a ingestão excessiva e frequente de alimentos ultraprocessados. É importante também considerar alguns fatores, como o planejamento e organização, que são fundamentais para se adotar uma dieta saudável”, explica a professora.

Keilla Cardoso, professora dos cursos de Gastronomia e Nutrição da Unama
Foto: Arquivo pessoal

Keilla destaca que, com a pandemia, observou-se um agravamento da saúde mental das pessoas, mas a alimentação pode ser uma forte aliada nos tratamentos. “O primeiro passo a ser dado é diminuir a ingestão de alimentos ultraprocessados, ricos em carboidratos refinados, sódio, glutamato monossódico e outras substâncias sintéticas prejudiciais à saúde. Diversas pesquisas apontam a importância da ingestão de certos alimentos para combater o desenvolvimento de distribuídos neurológicos. Aqueles que são fontes de triptofano, aminoácido precursor da serotonina, como abacate, banana, tomate, grão de bico; alimentos fontes de ômega 3, como a sardinha, açaí, castanhas, azeite extravirgem de oliva; e vitaminas do complexo B, que podem ser encontradas na banana, cereais integrais, arroz, milho e aveia, são extremamente importantes”, detalha.