O cultivo da juta é uma cultura de várzea integrada ao bioma amazônico, que não provoca queimadas ou desmatamento, além de ser fonte de renda para cerca de 15 mil famílias ribeirinhas, nos estados do Amazonas e Pará. A produção de sementes de malva e juta se revela um mercado bastante atrativo para os Governos do Pará e do Amazonas. Sabendo disso, os dois estados estabeleceram uma parceria para fomentar a produção dessas sementes.
Em estudo de campo, realizado por técnicos amazonenses, no Pará, foi observada uma baixa demanda de sementes para a compra. Por isso, na última semana, foi realizada uma reunião entre os dois Governos, junto com os produtores que oferecem matéria-prima para a indústria têxtil, com o objetivo de encontrar soluções para a próxima safra.
“A gente viveu tempos muito difíceis com a pandemia. Em 2020, nós ficamos impedidos de fazer viagens ao Pará, que é o produtor de semente. E debatemos a disponibilidade de semente para essa safra. O rio tá baixando e o produtor quer plantar! Então, a gente vai ter quase 50 toneladas sendo colocadas à disposição dos produtores, por parte da indústria, isso tanto de malva, quanto de juta”, afirma o secretário de Estado da Produção Rural do Amazonas (SEPROR), Petrucio Magalhães Júnior.
Ainda naquela semana, a comitiva amazonense visitou um campo com área de 200 hectares, adquirido pela Empresa Industrial de Juta de Manaus. De acordo com Petrucio Magalhães o objetivo é fechar parcerias e produzir, também, localmente. “A gente tá buscando a parceria do Ifibram (Instituto de Fibras da Amazônia), que é um instituto com larga experiência na produção de sementes, lá no estado do Pará. A gente busca essa parceria para iniciar um trabalho de produção, visando a semente”, revela o secretário da SEPROR.
A fibra é natural da juta é orgânica e biodegradável. Em Castanhal, no Pará, está instalada a maior fabricante de juta das Américas. Os produtos da companhia têxtil de Castanhal atendem os mais variados negócios, desde agronegócio, mercado da moda, decoração e artesanato. A versatilidade da juta é indiscutível.
Castanhal produz sacaria de juta livre de hidrocarbonetos para embalar produtos como café (exportação e mercado interno), batata, cacau, castanha, amendoim, algodão, tanino e minério de ferro, dentre outros.
A sacaria de juta permeia a história da produção agrícola brasileira. Da era dos barões do café ao volume exponencial de exportação da nossa produção de grãos, tubérculos e frutas, a fibra natural tem a capacidade de regular a umidade, proteger e conservar a qualidade de produtos como café, cacau, batata, amendoim, tanino, entre outros, além dos não alimentícios. Atualmente, o Brasil é o maior produtor e exportador de café. E existe uma grande demanda externa por sacaria de fibra vegetal, produto extraído principalmente da juta e da malva, utilizada para embalar os grãos.
De acordo com o diretor de Indústria e Comércio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Mauro Barbalho, essa aliança entre o Estado do Pará e o Amazonas vai promover autonomia de produção aos dois estados. “Mesmo antes da visita do Amazonas ao Pará houve uma sinergia, no sentido de perceber a importância da malva e da juta para os dois estados. Nós recebemos no primeiro semestre a comitiva amazonense e estamos retribuindo com esse retorno ao estado do Amazonas para efetivamente consolidar essa parceria entre os governos e remover todos os obstáculos e barreiras para que a gente possa ser autossuficiente na produção de sementes e fibras naturais”, conclui.
“O Pará tem vocação para o plantio de juta e enxergamos claramente enorme potencial para produzir fibra natural de altíssima qualidade e em volume que abasteça plenamente a demanda dos mais diversos setores do mercado. Aliado a isso, também é uma maneira de reafirmarmos nosso compromisso socioambiental, incentivando a produção e o uso de fibras naturais como alternativa aos materiais sintéticos, além de contribuir para a geração de renda e a fixação das famílias em sua terra natal”, afirma Flávio Smith, diretor-presidente da Companhia Têxtil de Castanhal.
“Nossa ideia é aumentar exponencialmente a produção de juta e obter uma fibra de melhor qualidade, que representa ganho real para o produtor em termos de preços e rendimento industrial significativo para a fábrica. Para isso contamos com a participação de parceiros como Secretarias Municipais de Agricultura, Cooperativas, Associações de Produtores, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER) e agentes financeiros”, explica Smith.
Projeto Semente
A missão desse projeto é despertar nos produtores o interesse pelo plantio da juta como atividade de retorno garantido. Eles serão capacitados para absorver as orientações técnicas e adotar tecnologias com acompanhamento constante de técnicos agrícolas, além de viabilizar recursos para financiar os produtores da forma mais desburocratizada possível.
Dentro deste contexto está em curso a Retomada do Plano de Recuperação da Cultura da Malva e Juta no Pará. Neste plano estão envolvidas as instituições ligadas à agricultura através da Câmara Setorial de Fibras Naturais, que será criada pelo governo do Estado do Pará. Concomitante a isto está sendo estudada uma legislação que visa promover as atividades do produtor de Fibra de juta e malva no Pará. Estas ações visam assegurar uma produção entre 15 a 20 mil toneladas, envolvendo cerca de 15 mil famílias de produtores em diversas regiões do Estado do Pará: Bragantina, Guaratiba, Baixo Amazonas e Marajó.
Texto: Agência Pará