No próximo dia 23 de julho, começa mais uma edição histórica das Olimpíadas. Adiados em um ano, por conta da pandemia, os Jogos Olímpicos ocorrerão em Tokyo, no Japão, país que investiu mais de US$ 12 bilhões para a realização do evento. Em entrevista exclusiva ao Cenário News, o economista e professor do curso de Administração da Estácio, Marcelo Pereira, comenta sobre os efeitos de grandes eventos, como Copas e Olimpíadas, em países que os recebem. A nível local, o especialista comenta sobre o Círio de Nazaré. Acompanhe.
Quais os efeitos de grandes eventos, como Copas e Olimpíadas, nas economias dos países que o recebem?
Os grandes eventos sempre, em todo e qualquer país, têm o objetivo de atrair mais investimentos e consumo com a chegada de turistas e maior atenção de toda a mídia tradicional e virtual para a nação. Países como Espanha e Estados Unidos, em regiões como Barcelona e Los Angeles, usufruem até hoje do legado de infraestrutura e do turismo deixado pelos Jogos, assim como Coréia do Sul, Japão e região, que viram crescer seus indicadores econômicos e servir de referência até então pela atração de turistas e investidores do mercado.
Eles conseguiram atrair o investimento interno e fortalecer o consumo com os incentivos das instituições que promovem os jogos, na construção de novos equipamentos esportivos e culturais, com o intuito de utilização posterior por turistas e toda a sociedade nativa. Esse é o intuito de realizar os Jogos. Pena que, em países como o Brasil e outros, o legado não tenha utilização até então e a preparação tenha sido motivo de suspeita e não transparência na sua realização para a construção da infraestrutura. E o problema de não utilizarem os equipamentos deixados pela Copa 2014 e pelos Jogos Olímpicos de 2016 não foi a pandemia, pois a subutilização vem de muito antes. Essa subutilização das obras é capital imobilizado, patrimônio sem o menor valor comercial e, principalmente, que não teve o menor retorno do investimento realizado.
Como a economia do Japão vai recuperar o investimento ou amenizar perdas sem turistas no evento?
A questão fundamental para toda e qualquer solução econômica, de qualquer país e evento no mundo, desde o início da pandemia, é o fim das restrições sociais e sanitárias e o retorno de todas as atividades. Sem a retomada integral, seja no Japão ou em qualquer outro lugar do mundo, não teremos recuperação integral da economia e de sua sustentabilidade social e política.
Falar de retração econômica na economia japonesa não tem o mesmo enfoque em tratar de retração econômica de uma economia como a brasileira. Em um país como o Japão, falamos de deflação. Como todos os países do mundo, o Japão ainda convive com sua economia num momento pandêmico de restrições sociais e preocupações sanitárias. Além de todo o cenário desde 2020, de retração econômica e alerta da saúde social, tem na agenda nacional a realização das Olimpíadas, adiada por justas razões de não-aglomeração e não-proliferação da covid-19.
Reverter o prejuízo, até então estimado de mais de R$ 100 bilhões, será difícil, pois ao realizar as Olimpíadas somente em 2021, o país deixa de angariar ganhos de, aproximadamente, 90 dólares por dia por pessoa. Esse valor é o que um turista gastaria diariamente, caso ele pudesse ingressar no país e comparecer à programação de todos os jogos. O Rio de Janeiro, por exemplo, recepcionou 1,17 milhões de turistas, sendo que destes, 410 mil foram turistas estrangeiros.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio provavelmente não afetaria muito a economia do Japão, porém essa expectativa não se realizou. Exigiu do governo maior oferta de apoio prestado às empresas, principalmente às pequenas e médias empresas, que foram as mais atingidas pela redução do consumo no período pandêmico e do adiamento dos Jogos Olímpicos.
Soerguer a economia Japonesa vai requerer maior ação por parte do Estado, tanto no incentivo à produção multinacional e nacional nas atividades econômicas, possivelmente em atividades culturais e esportivas, que aproveitem a infraestrutura estabelecida para os Jogos; quanto nos incentivos aos profissionais e empresas; além de estimular a circulação maior do fluxo monetário no país, com incentivo ao turismo nacional.
Receber grandes eventos no momento em que os países ainda sentem os efeitos da pandemia é interessante?
Diferentemente dos Jogos Olímpicos Japoneses, existem eventos e eventos. Cada análise tem que ser feita unitária e exclusivamente com cada um, pois não há solução genérica para todo e qualquer caso. Esse é o primeiro tópico a ser tratado. O segundo é tratar o evento com as possibilidades de realização imediata, na data e período requerido, porém que dê a manutenção da cultura e da tradição da sociedade, mas que reverta em algum retorno os investimentos a eles destinados, seja pelos patrocinadores e/ou divulgadores do evento ou pelas mídias tradicionais e virtuais, que sustentem financeiramente o evento e seus objetivos, dentro das limitações, que ainda são infindáveis, que o momento pandêmico requer.
A nível local, uma das maiores manifestações religiosas do mundo, o Círio de Nazaré, movimentou aproximadamente R$ US$ 32 milhões em 2019, segundo o Dieese. Até o momento, os organizadores ainda não se pronunciaram sobre a realização da festividade este ano. Você acha que deixar de realizar o evento bicentenário, pela segunda vez consecutiva, pode trazer impactos para a receita do Estado?
Fato é a importância do Círio de Nazaré para o Pará e toda a região, e até para a nação brasileira, além da impossibilidade de realização presencial de todas as atividades que tal evento, pela sua grandiosidade, atração do público, pela fé e pelo turismo, sempre produziram. Entretanto, o adiamento é ainda inevitável, pois, por exemplo, a fé demonstrada pelos fiéis nas missas, na corda, na procissão e demais lugares de realização do evento religioso, ainda não pode ser expressa em grupo, igualmente como acontece com as festas juninas e de réveillon.
Contudo, uma congregação de patrocinadores e apoiadores pelas mídias tradicional e virtual poderá ser o caminho para realizar as atividades religiosas. Mas, como falei anteriormente, a questão fundamental para toda e qualquer solução econômica, de qualquer país e evento no mundo, desde o início da pandemia, é o fim das restrições sociais e sanitárias, que retomem livremente todas as atividades. Sem a retomada integral das atividades, seja no Pará, no Brasil ou qualquer outro lugar do mundo, não teremos recuperação integral da economia e de sua sustentabilidade social e política sem o fim da pandemia.