Lojistas investem na abertura de novas unidades na capital paraense

A pandemia de covid-19 tem afetado fortemente diversos setores da economia, ocasionando falências, fechamento de lojas e fábricas e desemprego em todo o país. Na contramão da crise, o setor de materiais de construção vem crescendo de maneira sólida. Mais presentes em casa e sem poder viajar e passear com a mesma frequência de antes, as famílias têm investido mais no ambiente onde vivem.
Segundo a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (ANAMACO), em 2020, houve crescimento de 11% no faturamento do setor, alcançando a marca de R$ 150,55 bilhões, conforme dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas. No Pará, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o segmento da construção ocupa 15,5% da indústria, ficando atrás apenas da extração de minerais não metálicos (43,4%) e dos serviços industriais de utilidade pública (28,4%).
Para o consultor empresarial, Renato Lima, essa alta de vendas, especialmente durante o ápice da pandemia, pode ter sido ocasionada pela distribuição do auxílio emergencial, que estimulou as compras em grande escala. “Soma-se a isso o fato de as pessoas estarem em casa e, por consequência, necessitarem melhorar o espaço de convivência. Então, em geral, podemos dizer que o setor cresceu bastante no ano passado e começou este ano ainda em alta”, disse. Para 2021, a projeção é de uma alta de 14,5%. “Esse é um número realizável, uma vez que o ano já começou com crescimento e agora chegamos no verão amazônico, onde as vendas aquecem consideravelmente”, acrescentou.

Foto: Arquivo pessoal
Crescimento – Esse otimismo já se reflete em algumas iniciativas, como a da Jurunense Home Center, que está no mercado desde 2006 e vai inaugurar sua sexta loja, na Av. Senador Lemos, em Belém. A empresa já possui unidades nos bairros de São Brás, Cremação, Tapanã, Cidade Nova e na BR 316, além de um e-commerce. O CEO e fundador, Cláudio Batista, conta que, em 2020, houve uma queda de faturamento do início de março, quando a pandemia começou a se instalar, passando pelo pior mês – abril–, até iniciar uma recuperação em maio e junho, com a disponibilidade do auxílio emergencial.
Ele pontua que, no período, o material que mais saiu foi o de pequena reforma: itens de banheiro, de pintura, reparos elétricos, além de produtos como ar-condicionado e ventilador. Por outro lado, o fundador da Jurunese Home Center destaca que, com o aumento da inflação, fechamento de fábricas e falta de insumos, o preço do aço aumentou cerca de 80%, e toda a linha de tubo, conexão, forro e materiais em resina teve seus preços alavancados em quase 60%. Já a cerâmica e o porcelanato aumentaram em 80%, em média.
“Desde então, o faturamento veio crescendo muito. Inclusive em julho, no meio da pandemia, inauguramos essa loja da Cidade Nova. Fechamos dezembro bem próximos do que esperávamos, crescemos em 42% de 2019 para 2020 com apenas uma loja a mais. Em 2021, conseguimos manter esses números, oscilando apenas em março, com a segunda onda de covid-19, mas em abril deste ano já conseguimos recuperar e bater nosso recorde novamente”, ressalta.

Foto: Renan Bittencourt
Cláudio diz que, em comparação ao primeiro semestre do ano passado, as vendas cresceram em 70%. Além da inauguração da nova loja da Senador Lemos em agosto, Cláudio revela que o grupo vai começar a ampliação de mais duas unidades. Somado a isso, foi lançado o e-commerce que, inicialmente estava previsto para entrar no ar em novembro de 2020, mas com a pandemia, teve que ser adiantado para maio. “Estamos evoluindo muito com as ferramentas digitais, antes nem tínhamos canal de WhatsApp, agora temos um canal de atendimento pelo aplicativo e no site também. Investimos em redes sociais e isso acaba convertendo muito a venda para o site”, explica o CEO.
Para este ano, o grupo pretende investir forte em logística, com o intuito de, até setembro, o cliente poder comprar e receber o produto em 24 horas. “Já temos no canal digital um tipo especial de entrega expressa chamada ‘Rapidola’, onde o cliente compra e recebe em até 12 horas. Queremos expandir isso para todos os produtos, se a pessoa comprar hoje, entregamos no máximo amanhã. Acreditamos que essa rapidez, essa logística, vai ser mais um diferencial da empresa nesse período para o nosso cliente”, completa.
Trajano Menezes, diretor da loja Vermelho Home center, observa esse cenário com mais cautela. Há 15 anos no mercado de materiais de construção e com três lojas em funcionamento – no bairro do Sideral, na Rodovia Augusto Montenegro e na feira da 8 de maio –, o lojista explica que, com o aumento dos preços, os clientes estão mais reservados, pesquisando mais, perguntando valores de cada produto e comparando. “Temos vendido itens básicos, mas o ápice foi ano passado. Com o auxílio, vendemos todo o estoque”, conta.
Tributação – O consultor empresarial, Renato Lima, explica que essa alta se dá porque o setor de material de construção é um dos poucos do mercado varejista que não desfruta de nenhum tipo de benefício fiscal, a tributação na área é elevada e, em muitos casos, com incidência de substituição tributária, que é quando o imposto é recolhido na origem, algo que encarece o produto antes mesmo de sua chegada.
“Há ainda o fato de que a operação desses produtos tem custo elevado, uma vez que as empresas precisam dispor de caminhões de entrega, empilhadeiras e galpões para funcionar, e esses recursos estão a cada dia mais caros, a exemplo do combustível, que aumenta toda semana. Acaba que o consumidor também paga essa conta, encontrando produtos cada vez mais caros nas prateleiras, não por vontade da classe empresarial, mas sim pelos altos custos envolvidos. Minha orientação é que os lojistas apostem em um sistema de gestão focado na eficiência e lucratividade, acompanhando de perto custos e despesas, buscando otimizá-los por meio de processos mais rápidos e seguros. Dessa forma, a empresa consegue driblar a alta de preços e apresentar competitividade no mercado”, orienta o consultor.